Lembrei de um conto que li há muitos anos, Antes do baile verde, de Lígia Fagundes Telles. Existe uma coleção de contos da autora, de 1970, com este título, que é uma importante obra em sua carreira. Curioso que apesar de ter lido o livro inteiro, só me lembro deste conto em especial.
Em resumo, uma filha se divide entre ir ao baile de carnaval muito desejado ou cuidar de seu pai doente. No diálogo com a empregada, se engana de mil maneiras e tenta se convencer que ir ao baile é o mais correto: minimiza a doença do pai e seu papel de filha. Claramente a autora se posiciona contra a personagem e este é o único defeito do texto, porque acaba sendo moralista, em vez de observador.
Lembro de várias pacientes (em geral são mulheres, mesmo) que precisam cuidar dos pais doentes e que ficam deprimidas. Aprendi que nas famílias, uma das filhas acaba assumindo a responsabilidade de cuidar dos pais, e este é um peso gigante. Mesmo com ajuda, acabaram os finais-de-semana, a despreocupação e liberdade dos filhos criados e o orçamento doméstico fica apertado com gastos com remédios e cuidados médicos. Quem as culpa pela dúvida em assumir esta carga, que pode durar vários anos?
Essas memórias vieram quando vi o título de um livro de psicoterapia, sobre cuidar de alguém. E em psiquiatria se fala muito sobre cuidado, mas acho que o mais importante está no que Winnicott apontou: dedicação, capacidade de doação. Só isso.
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