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Thursday, August 27, 2009

Depressão

Tenho me perguntado qual a utilidade de fazer o diagnóstico de depressão em algum paciente. Me sinto herética em questionar o dogma psiquiátrico de diagnóstico - tratamento, mas me autorizo a fazê-lo... A experiência que tenho do consultório e do hospital me mostram que não é simples tratar depressão.
Todos os textos científicos que li deixam muito clara a vantagem de se identificar esta afecção, "a highly treatable ilness", uma moléstia de fácil tratamento, ou, se quiserem, que pode ser tratada na maior parte das vezes. Mas a eficácia dos antidepressivos é de 50 - 60%, enquanto a do placebo é de 30%. Junte-se a isso o fato de que só 30% dos pacientes tomam o remédio prescrito pelo médico (esse fato não tem a ver com a eficácia do remédio, mas está relacionado com a eficácia do tratamento como um todo: se o pcte vai à consulta, eu faço o diagnóstico mas não consigo tratá-lo, meu rendimento continua abaixo do que se espera).
Minhas hipóteses para a divergência entre teoria e prática são:
1. Os americanos são melhores do que nós e têm técnicas e jeitos que nós não temos. Parte disso é verdade, eles têm acesso a maior número de remédios e de psicoterapeutas.
2. Os laboratórios farmacêuticos querem fazer crer que suas substâncias são mais efetivas do que realmente se vê, e influenciam os formadores de opinião para que escrevam afirmativas tendenciosas. Também isso é verdade, no congresso americano de psiquiatria e na residência pude ver como os professores recebem tanto dinheiro dos laboratórios, é impossível ter opinião isenta quando se mexe no bolso da pessoa.
3. Minha experiência é enviesada, ao longo do tempo peguei pacientes mais graves ou refratários.
4. Existe um erro conceitual de minha parte, pois a depressão é uma doença crônica, e seu tratamento é crônico, como o tratamento da diabete. Mas fala sério, quem vai querer tomar remédio e vir ao médico por meses ou anos antes de melhorar?
5. Na verdade, ainda não temos todas as peças do quebra-cabeças para poder interferir na sua história natural. Dentro de algumas décadas conseguiremos tratar depressão, porém agora andamos no escuro. Ou melhor, fazemos o diagnóstico...

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