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Thursday, December 23, 2010

Meu aprendizado sobre cozinha

Aprendi que cozinhar requer muito tempo dentro da cozinha: o tempo do cozimento e do resfriamento, o tempo que o fermento leva para ajudar a massa a crescer e o tempo da geladeira. Fora o tempo do teste das receitas até que você possa criar algo decente...
Além do tempo dentro da cozinha, existe o tempo estudando na internet e lendo livros sobre culinária, que é o meu preferido. Encontrei sem querer um site magnifíco sobre os processos químicos envolvidos em cozinhar enquanto lia sobre brinquedos interessantes para as meninas, que se chama "Your mother was a scientist",  http://kitchenscience.sci-toys.com/Introduction. É necessário ter conhecimentos de química orgânica para entender o site, mas vale muito a pena, porque te dá liberdade para variar as receitas ao seu bel-prazer, já que você passa a entender os fundamentos do que está preparando.
Entendi o motivo do nome "temperar" para o resfriamento do chocolate para fazer bombons, por exemplo. Para quem não sabe, você precisa mexer o chocolate derretido repetidas vezes sobre uma superfície fria, como a pedra da pia, até que ele fique morno, o que é muito chato. Temperar vem de dar a temperatura certa, porque ao resfriar o chocolate, pequenos cristais começam a se formar, e a taxa de formação deles é ditada pela perda de calor. Se a perda de calor é rápida demais, cristais longos se formam e o que os nossos sentidos percebem é um chocolate duro, opaco e quebradiço. Isto também acontece quando ele fica armazenado por muito tempo e começa a esbranquiçar: são estes cristais que estão se alongando.
Aos poucos vou contando o que estou aprendendo...

Tuesday, December 21, 2010

Sobre o envelhecimento

Eu não sou uma pessoa velha, ou idosa, como diz a terminologia corrente. Mas já consigo ter um vislumbre do que me espera nos anos futuros. Não sei por qual combinação de fatores acabo me sentindo pertencente ao time "de lá", mas nas reuniões de amigos tenho mais assunto em comum com as mães das minhas amigas do que com elas mesmas. Talvez seja a pele do rosto mais flácida dos 30 anos junto ao fato de ter 2 filhas, ou então porque já tenho uma história, já posso contar sobre minhas experiências sem parecer tão petulante.
O fato mais importante que percebi com essa situação é que até ao final ainda existe uma expectativa de coisas boas pela frente. Isso é o grande motivador da vida: a esperança em um futuro no qual existam prazeres a serem vividos, sejam eles quais forem. É por isso que os livros de psiquiatria insistem que as pessoas idosas precisam ter uma esperança, do contrário estão deprimidas. Antigamente achava que era um exagero e que aos poucos a gente ía abandonando a vida, como se nos tornássemos ascetas. Algumas pessoas privilegiadas são capazes disso, mas a maioria não é. Os hindus (os brâmanes, segundo me informou meu sogro) têm um ideal de conseguir cortar os vínculos materiais, familiares e sociais aos 60 anos. Ou seja, poder fazer uma despedida da vida que construíram no início da terceira idade para viver uma vida mais simples e dedicada à religião. Nós mesmos acreditamos que os mais velhos precisam menos de "futilidades", como passeios, roupas, etc, do que os mais jovens, mas não é bem assim. E talvez seja bom desse jeito, porque afinal, a esperança é a última a morrer, não é?

Friday, December 3, 2010

Mais sobre "A duquesa"

Também achei outras coisas interessantes no filme além da situação feminina: a construção do personagem do duque foi muito esmerada. Ralph Phiennes está excelente no papel e não consegui ficar com raiva dele porque era possível entendê-lo, ele era um sujeito seco, mais velho e conhecedor de sua posição social e de suas obrigações. E apesar da violência com a qual ele trata a protagonista, é seu parceiro e está ao seu lado em momentos adversos.

Um parênteses: acho curioso o desdém com que ele trata o cargo de primeiro-ministro e a política, como se estes cargos fossem de "zeladores" e ele o síndico do condomínio e diz um pouco o que significava ser nobre nessa época.

Os relacionamentos que se formam durante a trama são pouco convencionais, com exceção do amor romântico da duquesa. Os questionamentos sobre relacionamentos na modernidade não devem nada aos do século XVIII, porque a visão clássica do casal que se ama e cuida dos filhos é perturbada pelo triângulo formado com a amante/amiga que mora com todo mundo e cuida de todos (assim como provoca todos). Ou talvez o filme tenha ficado contaminado por este novo modo de vermos a família e os casais que é mais fluido.

Por fim, a passagem para a vida adulta e suas desilusões e seus traumas são mostrados de forma tão bonita e dolorida... Até que a duquesa fica mais resignada com os prazeres que são possíveis e segue adiante, da melhor maneira que conseguiu. Um filme muito rico, mesmo.

Tuesday, November 30, 2010

Feminismo

Ontem estava assistindo "A duquesa" e anteontem estava zapeando os canais e vi uma parte de "Legalmente loira". Agora que o Shri está viajando fico mais acordada à noite, com medo que aconteça algo com as meninas e eu esteja dormindo... O primeiro filme estava muito vívido em minha mente, talvez porque fui vê-lo no cinema e não tem como não prestar atenção nesse momento. O segundo havia passado batido, uma comédia legalzinha, mas não havia me marcado. A combinação dos dois tocou em mim dessa vez: fiquei pensando como ainda somos machistas na cultura ocidental. Nem quero me comparar com árabes e muçulmanos, agradeço por ter nascido no Brasil, mas ainda temos muito caminho pela frente para melhorar. Porque se a duquesa não impressiona por ter existido no século XVIII, a estudante de direito em Harvard que é muito feminina e por isso sofre preconceito, destoa da modernidade.
Lembrei de como eu mesma era tão preconceituosa na faculdade, como achava que precisava parecer "mais feia", sem muita produção feminina, para ser levada a sério e ter um ar de responsabilidade. Tirando minhas questões pessoais, também havia um ambiente que valorizava o aspecto masculino das mulheres estudantes de Medicina. Era como se as meninas fossem aceitas, mas precisassem jogar como os meninos. Em política também se fala muito desse assunto, da maneira como as mulheres agem quando estão nessa área de atuação, e como existe até uma imitação do jeito masculino de fazer política. E agora, com uma presidente mulher, é um assunto mais quente ainda. Até já comentaram sobre a sexualidade da Dilma e isso diz muito sobre nosso ponto de vista, como se para exercer este papel não fosse possível ela ser muito feminina...
2 fatos significativos: mulheres ainda ganham menos do que homens exercendo a mesma atividade profissional; todos os dias uma mulher morre vítima de maus-tratos domésticos no Brasil.

Sunday, October 10, 2010

Tropa de elite 2

O segundo filme não tem a força do primeiro. Estava com tantas expectativas, mas a ação é menor, as teorias sobre a violência brasileira não são originais e o filme é mais dramático. O inesquecível "Põe na conta do papa", tão sarcástico, dando um tapa na nossa cara, fica mais raro neste tropa de elite 2.
O que será que houve? Continuações são mais difíceis de serem feitas e em geral, não tão bem sucedidas, repetir a originalidade de um filme deve ser muito raro. Mas ainda assim, vale pelo conhecimento do que ocorre no Rio de Janeiro e pela atuação do Wagner Moura.

Monday, August 30, 2010

Meu relacionamento com a internet

Lembro que quando precisei permanecer em repouso durante a gravidez da Júlia, considerei um alívio a existência da internet. Consegui assistir aulas de psiquiatria, saber das notícias do mundo, escrever textos, tudo isso sem sair do quarto. Ficava me comparando com os meus antepassados e com todo o tédio que deveria ser ficar em casa, e me sentia privilegiada.
Curioso é que justamente eu, que estava tão eufórica, fui a pessoa do meu círculo que foi a mais lesada. O roubo do meu email da Microsoft me deixou sem chão... Perdi a lista dos meus contatos, vários textos interessantes que eu guardava nas pastas, fotos de filhos de amigos. Vivi numa situação semelhante a "O processo" do Kafka, porque o hotmail me pedia para provar que eu era eu mesma, e não aceitava minhas provas... Queria saber exatamente em qual data eu havia criado a conta, mas só sei que há 12, talvez 13 anos. Como vou saber o dia certo: nunca nem me preocupei em gravar esse dado, talvez até tivesse anotado em algum papel se o julgasse importante...
Confesso que fiquei traumatizada e só agora consigo falar sobre isso: 4 meses depois do ocorrido. Tenho vergonha do que aconteceu e do próprio fato de que isso me abalou tanto, mas fazer o que, é verdade... Ainda estou me comunicando pouco com as pessoas, já que não tenho o endereço delas, me sinto dependente do Shri para saber como devo me comportar na rede, e me sinto velha por nem ter percebido que as coisas mudaram tanto, que o comportamento na internet deve ser outro, todos os relacionamentos dentro dela já são mais complexos.
Acho que fica a lição de que qualquer ferramenta humana pode ser usada para o bem ou para o mal...

Monday, July 26, 2010

A capacidade de ser multitarefa

Tenho notado que estou ficando defasada quanto à necessidade moderna de realizar várias tarefas simultaneamente. Não, esta característica não é exclusiva de máquinas, seres humanos também precisam se adaptar aos novos tempos e ser capazes de pensar em questões diferentes ao mesmo tempo.


Por muito tempo minha habilidade para me concentrar e mergulhar nos estudos foi útil, apesar de minhas irmãs se queixarem na infância por eu não ter escutado o que elas haviam me dito enquanto assistia televisão ou escrevia em um caderno. Elas achavam que eu não prestava atenção nelas, levavam para o lado pessoal, mas o que ocorria era que eu prestava atenção demais no que estava fazendo. Porém, percebo que é útil "equilibrar" vários pensamentos no plano da consciência, como um garçom, que consegue direcionar o pedido certo para cada pessoa da mesa, mesmo após um certo tempo ter se passado. Acredito que esta habilidade pode ser aperfeiçoada com treino.


James Joyce inovou a literatura ao transcrever o fluxo das idéias na mente para seu livro "Ulisses". A consciência é o espaço privilegiado dentro de nossa mente onde se desenrolam os pensamentos e sentimentos. Uma metáfora utilizada é a do teatro, a consciência é o palco em que os atores atuam. Os neurocientistas tentam arduamente definir em quais mecanismos fisiológicos ela estaria estabelecida e o livro "O erro de Descartes", de Antônio Damásio, é muito interessante porque mostra que a consciência na realidade se parece mais com um conjunto de cenas simultâneas e embaralhadas do que com algo organizado.

Thursday, April 22, 2010

Me hackearam!

Roubaram minha senha do hotmail e enviaram para todos os meus contatos uma mensagem pedindo dinheiro porque estava com problemas em Londres!
Espero que consiga recuperar o acesso à minha conta, porque eu guardava muitos artigos nas pastas, além dos contatos. Nunca achei que isso pudesse acontecer porque não pensava que minhas mensagens tivessem algum valor para outras pessoas (apesar de que o Shri já havia me avisado pra trocar de senha por outra mais difícil). Mas não é uma conta de banco, não envolve dinheiro, sei lá...
Tiro duas lições do ocorrido: a primeira é que tudo que é seu pode ser roubado, até um chinelo velho, as pessoas são muito estranhas (mais um fato para comprovar). Segunda: preciso me atualizar em tecnologia, porque o Shri começou a escrever para o Hotmail sobre o ocorrido, falando em termos tão enigmáticos que me senti totalmente por fora.
Por fim, para me contatar, podem usar o vffavaro@gmail.com.

Friday, April 16, 2010

Em busca do tempo perdido

Cheguei à página 500 do livro "Em busca do tempo perdido", do Marcel Proust! Não foi fácil e devo admitir que houve trechos em que passei mais rápido, em especial aqueles que dissecam a sociedade francesa do século XIX. Estou mais interessada no modo como ele descreve o próprio sentimento, como afirma tantas verdades sobre a alma humana.


O livro é praticamente a única obra do autor e é autobiográfico, apesar de conter trechos fictícios. Acho que ele não poderá ser transposto para o cinema devido à dificuldade em narrar o mundo interno do autor. O enredo em si é simples, sem tantos acontecimentos, (apesar de abarcar a vida inteira do personagem principal). Mesmo assim, já existe um filme baseado no primeiro volume, "Um amor de Swann", de 1984, com Jeremy Irons, que é bastante interessante pelas imagens e recriação da época.


Aos poucos o personagem está se tornando mais melancólico: teve uma grande desilusão amorosa e não corresponde aos anseios de seus pais. Seus próprios sonhos profissionais não são realizados por conta de sua asma e de sua fragilidade emocional. Ele vai discursando sobre suas lembranças, as expectativas em relação ao futuro e o que acontece no presente, e tudo parece muito dolorido. Ao mesmo tempo é tão verdadeiro e presente em algum grau na vida das pessoas em geral.


É curioso pensar que após tanto tempo, todos os personagens bem sucedidos do seu círculo só são conhecidos através do que Marcel Proust achava deles. A própria passagem do tempo ajudou a burilar o que importava dos acontecimentos do seu círculo social, e o que ficou foi... a própria visão dele...

Tuesday, March 23, 2010

Poema de Mário Quintana

Do livro da Sofia, "Só Meu":

Sempre

Sou o dono dos tesouros perdidos no fundo do mar.
Só o que está perdido é nosso para sempre.

Tuesday, March 2, 2010

Minha sensibilidade

Enfim, depois de tanto tempo ausente, voltei a escrever!
Tenho rezado com a Sofia à noite, não para que ela tenha uma religião definida, mas para que tenha uma espiritualidade, uma capacidade de conversar com os céus para pedir conforto e também para agradecer pelas coisas boas da vida. Na última noite a gente estava pedindo para o papai do céu que olhasse pelas outras crianças e desse a elas coisas que a Sofia já tem: uma caminha gostosa para dormir, um leite quentinho e uma família por perto. Ela se lembrou de pedir pelas crianças do Haiti, especialmente, e eu fiquei contente por ela ter pensado nessas pessoas, e tocada por ver de novo a imagem das fotos publicadas após o terremoto bem na minha frente... Como será que estão as crianças no Haiti? Os jornais não falam mais nada sobre o país, agora a notícia é o que acontece no Chile, mas os haitianos continuam naquela terra arrasada, tendo que sobreviver a cada dia. Provavelmente as crianças irão se adaptar às pequenas e grandes violências das esquinas e vão crescer achando que a vida bruta é a norma. Será que algum dia conseguirão ver além da necessidade de sobrevivência?
Estava lendo um artigo inflamado que critica a posição do governo a respeito da política antidrogas de redução de danos. Neste tipo de abordagem, não importa que o paciente continue usando a droga, e sim que ele não adquira novas doenças, como AIDS e tuberculose, e para isso são distribuídas seringas, cachimbos para usar crack, etc. Acreditem ou não, esta é uma das poucas idéias que o governo tem para a saúde pública no campo da dependência de drogas. Mas continuando, no texto o autor perguntava perplexo o que estamos oferecendo aos nossos adolescentes e crianças, se confirmamos para eles que não podem parar de usar drogas, que a vida se resume ao inferno de crack e traficantes. Nossa função também é oferecer esperança, mesmo em situações tão difíceis quanto esta, e de preferência levando junto o apoio efetivo dos adultos...
Esses assuntos não me tocavam antes de ter filhos, porém agora são tão doídos, me deixam tão sensibilizada. Percebo agora que ensino a Sofia a rezar para eu mesma ter um alívio, uma sensação de que faço algo pelas outras crianças...