Conversando com colegas psiquiatras, percebi que muitos têm medo de que os filhos sejam histéricos... Acho que todos os pais sentem medo que o filho tenha algum problema escondido, que alguma coisa que não foi bem durante a criação possa se manifestar no futuro. Pais se sentem culpados por vários motivos, então é natural que às vezes fiquem com medo. Mas achei curioso esse receio particular dos psiquiatras em relação à histeria, é como se tudo pudesse ser perdoado ou entendido, mas para a histeria não existisse redenção...
Apesar de existir uma classificação psiquiátrica atualizada e que não contém esse termo, a palavra histeria ainda é bastante utilizada informalmente. A raiz da palavra é grega e histeros é útero. Acreditava-se que as alterações vistas em pessoas que tinham comportamento alterado sem uma explicação plausível, e que em geral eram mulheres, fossem devidas aos efluxos uterinos, que ao invés de migrarem para o exterior, seriam direcionados para a cabeça, causando o transtorno. Essas mulheres muitas vezes não conseguiam mover um membro, ou então desmaiavam, tinham falhas de memória, e outros sintomas diferentes. Posteriormente, com a adoção da teoria psicanalítica, os sintomas histéricos passaram a se chamar "conversivos", pois significariam a conversão de uma angústia em uma sensação corporal devido à dificuldade da mente do indivíduo para poder tornar consciente tal angústia. No tempo atual utiliza-se a denominação transtorno somatoforme, devido à proeminência que o corpo assume como lugar das manifestações patológicas neste quadro.
Mas a histeria também pode designar uma personalidade alterada cujos traços principais são a dificuldade em se ligar afetivamente, o uso da sensualidade para manipular as pessoas, a busca por atenção e a grande intensidade dos sentimentos. Estas manifestações tão distintas confundem quem ouve o termo, e muitas vezes dois interlocutores estão falando de assuntos diferentes quando falam sobre histeria.
Voltando à idéia inicial, ontem mesmo uma paciente ficou indignada que tivesse este diagnóstico e falou que borderline ela entendia que pudesse ser, mas histriônica não... Uma possível explicação para a ojeriza ao quadro possa ser a dificuldade em lidar com as pessoas que têm estes traços. Ao mesmo tempo em que a histérica busca ajuda e se mostra disposta a encontrar saídas para seu sofrimento, logo a seguir joga fora qualquer idéia que você ofereça, fazendo o médico se sentir inútil. Talvez este sentimento de frustração e a sensação de que não há o que fazer atinjam o cerne de todos os médicos...Mas o que me consola é que ninguém tem uma resposta para ajudá-las... Todos nós ficamos à mercê do tempo e do desejo delas...
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment